
Por que criamos memórias do que nunca aconteceu?
1 de fevereiro de 2020Não importa que tenhamos memórias falsas, diz o britânico Martin Conway, o importante é que elas se encaixem com a ideia que temos sobre nós; segundo ele, a tecnologia expande nossa memória
A chamada “memória autobiográfica” é o que esse professor de psicologia cognitiva da City University of London, no Reino Unido, e diretor do Centro de Memória e Direito da mesma universidade vem estudando há 40 anos. Na visão dele, todos criamos inadvertidamente recordações que não correspondem à realidade, mas que se adequam à história que construímos sobre nossa vida e personalidade.
“Memórias autobiográficas, de períodos mais longos, de meses, anos ou décadas, servem mais para nos ajudar como indivíduos, para nos definir”, diz ele em entrevista à BBC News Brasil. “Então não é particularmente importante que a memória seja bastante precisa. O que importa é que seja consistente, que se encaixe com a sua vida, com o que você constrói sobre você mesmo. E esse processo pode ser inconsciente.”
Conway também é contrário às críticas que associam novas tecnologias a uma espécie de “terceirização da memória”. “Sempre soubemos que nossa cognição é imperfeita, e sempre buscamos maneiras para suplementá-la. Pessoalmente, eu acho bom. A tecnologia expande nossa memória, não o contrário”, afirma.
Ele diz que a memória não é um músculo que pode ser exercitado. “Aprender um instrumento musical, uma nova língua, uma nova área de conhecimento, tudo isso é bom. Vai te fazer mais inteligente e esperto. Mas não vai fazer sua memória melhorar”, afirma. A melhor coisa para a memória, diz ele, é socializar e conviver com amigos e familiares — algo que promove aprendizados e que, segundo ele, faz bem para a memória e para a mente como um todo.