BATE-BOCAS DAS REDES SOCIAIS TAMBÉM DOMINAM DISCURSOS NA TRIBUNA DA CÂMARA

BATE-BOCAS DAS REDES SOCIAIS TAMBÉM DOMINAM DISCURSOS NA TRIBUNA DA CÂMARA

11 de março de 2019 0 Por redacao

Líderes governistas orientam colegas a baixar o volume, para que os embates não prejudiquem a reforma da Previdência

No primeiro mês de trabalho da Câmara dos Deputados, novatos elevaram o tom das discussões entre esquerda e direita na tribuna e transportaram a lógica das redes sociais para o plenário. Líderes governistas agora orientam seus colegas a baixar o volume, para que os embates não prejudiquem a discussão da reforma da Previdência.

Os bate-bocas foram diversos. A oposição cobrou investigação do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) pelas movimentações financeiras em sua conta e na de seu ex-assessor, acusou o uso de laranjas pelo PSL nas eleições para desviar dinheiro público e discursou contra falas polêmicas de ministros como Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Vélez Rodríguez (Educação) e do presidente. Deputados do PSL foram à tribuna contestar.

“Para toda provocação da esquerda, tinha uma resposta dos nossos parlamentares. Virou um embate ideológico que consumia o tempo de fala da liderança do PSL, dos nossos deputados, da maioria. Estamos fazendo orientações para que tenhamos discussões mais relevantes para o governo do que o embate ideológico”, diz o líder do PSL, Delegado Waldir (GO).

Parlamentares veteranos expressaram o descontentamento com a polarização nos discursos. Os discursos têm desviado o centro das atenções para um embate entre PSL e PT. O primeiro partido é acusado de montar um “laranjal” nas eleições. Os governistas dizem que o PT é que é responsável por um “milharal” (“milhões de reais roubados com corrupção”, explica Waldir).

“O nível de debate dentro do plenário da Câmara está sendo muito criticado. Ao invés de se discutir questões regionais e nacionais, está se partindo para um bate-boca entre oposição e adeptos do governo, e isso chega a incomodar realmente as pessoas que desejam discutir projetos e mudanças concretas”, diz José Rocha (BA), líder do PR na Câmara.

Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, reconhece que a Câmara está mais sensível às redes sociais nesse ano, e vê ironia na preocupação dos governistas. Na base do governo pelo PSL, estão deputados que se elegeram graças às redes sociais, como os youtubers Joice Hasselmann (SP), Nelson Barbudo (MT) e o ator Alexandre Frota (SP).

“O governo não pode reclamar disso, porque usou da polarização das redes sociais para vencer as eleições. Portanto, agora vão provar da própria receita que estimularam o país a aderir nas últimas eleições. É um problema, porque o governo vai apresentar para o país pautas impopulares que serão muito criticadas nas redes sociais e terão que defendê-las.”

Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso, disse que há uma discussão sobre “abaixar o tom em alguns temas específicos”, mas que o tema não chegou a ser alvo de reunião da bancada. O ideal, segundo ela, é que os parlamentares focassem toda a energia na reforma da Previdência, sem deixar de fazer contraponto com a oposição quando é necessário.

“Claro que o PSL sempre vai ter uma linha de confronto com o PT, mas não dá para transformar toda a discussão em um bate-boca interminável, porque as sessões acabam ficando infrutíferas. Em casos assim, eu conversei com alguns parlamentares para que a gente baixasse um pouco o tom. Mas se a oposição vier com informações mentirosas, com distorções de fatos, a gente vai usar nossos parlamentares mais combativos para se posicionar.”