
Feito Espinha Dorsal – Você e Eu ou Eu e Você?
9 de novembro de 2017Por Joana Prado Medeiros*
Querido amor, nesta hora morna, lenta e imprecisa, tudo parece tornar-se triste, nostálgico. Surpreendo-me por inúmeras vezes olhando no espelho, uma pintinha aqui outra acolá, uma ruga aqui outra bem ali, a boca um pouco caída sustenta o olhar de muitos anos de olhares, de repente vem à lembrança você passando em minha rua, e eu corria para o portão, com o sorriso grande e o coração saltando pela boca. O meu primeiro amor matriz de todos os meus amores.
E foram tantas macarronadas e vinhos, tantas promessas entre suspiros e ais, que o meu amor sobreviveu o tempo suficiente para torna-se inesquecível, me pergunto: – Quanto dura algo para cristalizar-se? Aos domingos à tarde, nós percorríamos uma estradinha entre uma vila e outra, o sol ardendo nos braços, fritando nossos sonhos. Usando bata, calças jeans e sandálias de couro, ao som das canções italianas e The Beatles eu te esperava e quanto mais você demorava, mais te esperava.
Era sempre assim, o querer era só seu; Você era a liderança-Mor, porém, um dia, senti um desejo de liberdade, algo brotou e não teve jeito de ser abafado. A vontade de estudar e trabalhar, construir algo de meu nasceu torto, mas nasceu de tal jeito que, apesar de tanto amor eu fugi de você para “os meus braços”. Apertei no peito o amor e as canções, os ciúmes, as proibições e parti para o desconhecido; Já naquele tempo pressentia que a minha vida seria assim traçada: antes e depois de você.
Hoje tenho certeza. Tantas experiências, em cada vida vivida um pouquinho de você, a busca constante do seu sabor, a eterna procura do seu abraço, do seu olhar de aprovação, em cada multidão à procura de seu rosto, não como um rosto que “perdi’ mas sim para compartilhar contigo a minha e nossa incrível vitória”! – Trilhei meu próprio universo, esquadrinhei meus fracassos e realizações, enfim, a alegria de ser um composto de você e de mim… Aprendi contigo e lhe agradeço.
Gosto de pensar no tempo não como um tirano, mas como uma rede que me acolhe nas noites de luares e me faz sonhar, gosto da antítese das coisas. Do presente no passado e vice versa. Gosto de amornar meus sonhos e marinar meus desejos e ainda te sinto presente em mim, como um mosaico formando o desenho da minha longa espera, representando a síntese da minha morada, em seus braços senti o cheiro e o gosto encharcado de todos os meus amores.
Sabe meu amor, sempre existirá a esperança de outro dia, porém, é preciso pensar que retrospectiva e perspectiva nada mais são que as duas extremidades de uma mesma sequencia. O hoje não é senão um ponto sobre uma linha cujo desenvolvimento pode ser reconstruído é somente a acumulação desigual de tempos.
Em toda época haverá um humano começando, e outro continuando e outros recomeçando o começado e continuando o recomeçado enfim, é por aí, e sempre haverá fragmentos de recadinhos semelhantes a esta Carta de Amor.
E o linho tece fiando o fio das horas e você prefere beijos com gosto de morangos, e o seu amor prefere trufas, ora, pois “não precisamos ser semelhantes e nem mesmo diferentes” só precisamos ser e ter amor, investir em nós mesmos, aprender a ser só para aprender a viver a dois, ver o leque colorido da vida nos acenando.
Tenho saudades, seus olhos ficavam fechados quando você sorria. Agora pego toda a travessura da lembrança que burilou meu peito e fico com a armadura de Deus… Até uma noite com gosto de lua cheia.
* Professora MSc. Joana Prado Medeiros, douradense, graduada em História, especialista em História do Brasil, mestre em História e doutoranda em História. Professora na UNIGRAN Dourados (MS). Agora Colunista no Jornal MS Online.
Não existe ninguém que merece amar mais que a si mesmo. Isso sim, é fundamental! Quando estivermos nos amando, tudo vem por acréscimo! Linda, a sua carta de amor!
Parabéns, Joana, pelo texto! Abraço, Hermano de Melo de Melo.
Por estas lembranças que guardamos n’alma e no coração, momentos que nunca esqueceremos do passado, é que eu sempre tive comigo a certeza de que a saudade é doce e suave melancolia. Fica grudado, tal cola, na alma e coração. Aos olhos verte uma lágrima e na mente a recordação.
Parabéns escritora. Muito linda a tua divagação. Certamente toca a alma de muitos.
Assim amando-a nós mesmos consiguimos ver o mundo mais colorido ♥️♥️
Gostei dessa carta-recado onde o deslizar da pena característica da autora, inicia-se cautelosa e levemente saudosa, mas, ao percorrer o seu caminho adocica o seu relato com o sabor de quem sentiu uma paixão quase inebriante, mas o tempo e o seguir na vereda da vida desvia-se para o agridoce do desfazer-se do amor a dois para vivenciar o amor próprio. Porém, como o amor é para ser vivido a dois, restabelece o sentimento da saudade e finaliza evocando a possível cumplicidade da lua particularmente a cheia, essa distante e próxima companheira dos enamorados. Encerro o meu singelo comentário com os versos que não canso de repeti-los da canção de Amacio Mazzaroppi: “A dor da saudade, não há quem não sente, olhando o passado quem é que não sente saudades de alguém.”
Ah, o amor. Simples assim. Bjs