Respiro peixes mortos diante dos bons da boca!

Respiro peixes mortos diante dos bons da boca!

24 de novembro de 2017 3 Por jornalms

Por Joana Prado Medeiros*

De certa forma é comum ouvirmos a expressão: mas essa pessoa não tem jeito de político espia só que tipo! Nem sabe falar! Parece um pobretão!? Ser proprietário de bens, e ausentes do suor do trabalho diário constituiu e constitui as premissas para que um homem ascendesse à condição de cidadão e nela fosse legitimo a sua condição básica para ser admitido na vida pública porque garantia com razoável certeza que ele não tendo que prover para si mesmo o seu sustento, estaria livre para exercer a atividade política e que também era e é bom administrador. Nesta representação da sociedade a noção de cidadania só se aplica em sua acepção plena aos homens livres-proprietários –“Aos Ricos”.

As elites brasileiras em toda a história nacional galopam em seus cavalos de ouro, com suas imensas propriedades rurais e urbanas são uma poderosa oligarquia, formam políticos de carreira, como uma profissão, formam uma “familiocracia”.  “São os bois do orifício branco” são os coronéis, os bons da boca, os que mandam no “Curral Eleitoral”. O coronelismo rapidamente aqui pode ser entendido como um sistema de troca eleitoral, proteção e favores, sobretudo econômicos e políticos é claro.

Tal prática continua em uso em nossas campanhas eleitorais, e em todos os níveis e esferas do poder. Como é possível que o povo respeite a lei se os que têm como tarefa defendê-la é os primeiros a desrespeitá-las? Que significado tem a lei, quando ela é feita e refeita de acordo com os interesses de quem está no poder? Que significado tem uma constituição que a cada passo e rescrita para de novo ser negada, uma constituição que é violada em nome da defesa constitucional?

Para milhões de brasileiros, muitos desses direitos não passaram de ficção jurídica. Que sentido tem o direito à propriedade para quem não é proprietário e nem será? O que fazer frente à aliança ilícita entre algumas empresas e o sistema político?  Que sentido tem a separação dos poderes quando a mesma classe social comanda o Executivo, o Legislativo, e o Judiciário? Não, de forma alguma temos Democracia, temos a forma não à realidade.

Tento amornar a vida em uma xícara de chá, respiro peixes mortos do abandono ambiental, da fauna da flora, da qualidade de vida, do abandono da via democrática e em noites e dias solitários releio Fernão Capelo Gaivota nas madrugadas. Mas, ainda assim, de vez em quando, por razões que não se entende bem, a luz da alegria se apaga. O mundo inteiro fica sombrio e pesado. Vem à tristeza. As linhas do rosto ficam verticais, dominadas pelas forças do peso que fazem afundar os lábios caídos. Os sentidos se tornam indiferentes a tudo. O mundo se torna uma pasta pegajosa e escura. E uma sensação física estranha faz morada no peito, como se um polvo o apertasse.

O polvo do espaço político, que sem nenhum pudor vem praticando cenas de fisiologismo explícito, comprovando o “toma lá dá cá” na busca de apoio do congresso nacional sustentado o que há de mais retrógrado na política brasileira. Onde se reproduz em escala nacional o sistema de clientelismo e patronagem, vestindo o manto da corrupção.

A pergunta que não que calar é como viver? Ser habitado pelo medo, ser visitado pelo mal-estar, sentir o corpo se desdobrando em inúmeras dores e sensações desconfortáveis eis os sinais da instalação da angústia, como pagar a conta de luz? Como pagar a gasolina? O óleo o arroz a carne e o feijão? A escola, os impostos? Estamos confusos e tristes.

A vida, assim, parece estar grávida de morte e nos coloca em confronto direto com a experiência do limite, da vulnerabilidade frente a tantos desamparos e escândalos!!!

Fica clara a modificação e não o declínio do coronelismo no exercício da vida política brasileira. Ainda que pesem essas diferenças regionais e nacionais a meu ver os partidos políticos não apresentam diferentes feições, as semelhanças são mais significativas do que suas diferenças.

Entendo que o neoconservadorismo ainda atuante traduz uma espécie de nódoa, um legado do engendramento político em uma entrelaçada teia que mantém o povo sob o domínio de poucos, onde os antigos caciques renovam-se “criando novos caciques”.

Afinal, por que peixe morto? Alusão aos valores cristãos que perecem a olhos nus. Urge união, reflexão, travar o bom combate em prol da Nação.

Sine qua non.

* Professora MSc. Joana Prado Medeiros, douradense, graduada em História, especialista em História do Brasil, mestre em História e doutoranda em História. Professora na UNIGRAN Dourados (MS). Agora Colunista no Jornal MS Online.