
Crise diplomática com a China preocupa agro de MS
20 de março de 2020Após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, responsabilizar a China pela pandemia do novo coronavírus, provocando uma crise diplomática entre os países, o secretário estadual Jaime Verruk, da Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) avaliou com preocupação a necessidade de uma retratação urgente do governo brasileiro.
Na contramão disso, o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, entrou em defesa do filho de Jair Bolsonaro cobrando do consulado chinês um pedido de desculpas, após a embaixada chinesa no Brasil repudiar a fala do deputado chegando a dizer que Eduardo teria contraído “vírus mental”.
1-As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos.
— Embaixada da China no Brasil (@EmbaixadaChina) March 19, 2020
A crise diplomática pode colocar em xeque a principal parceria comercial do Brasil. Em Mato Grosso do Sul, a China é o maior comprador do agro. Verruk enxerga a situação com temor.
“A crise trata diretamente ao coronavírus e não se avaliou qual seria as consequências comerciais para o Brasil e os impactos nas cadeias produtivas brasileiras. De primeiro ato, é necessário que o governo brasileiro, e obviamente o deputado que fez a menção, peça desculpas formais à China em relação a forma como o Brasil tratou a questão do coronavírus. Nós sabemos que a China fez o seu trabalho como estamos fazendo, e o fez com sucesso. Então pode ser até uma parceira no combate ao coronavírus. Em Mato Grosso do Sul o país é o nosso principal parceiro comercial. Eles são responsáveis por mais de 50% das nossas exportações. Então qualquer discussão diplomática que resulte em algum tipo de restrição prejudicaria. É imprescindível o restabelecimento imediato das relações diplomáticas, de tal forma que não atrapalhe as relações comerciais”, afirmou.
Para o secretário, o Brasil não suporta restrições comerciais da China. “Isso traria prejuízos ao PIB [produto interno bruto] nacional, ao emprego nacional, de tal ordem similar ao que o coronavírus tem trazido ao Estado”, acrescentou.
A publicação que gerou tamanho alvoroço no Itamaraty dizia o seguinte:
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu Eduardo no Twitter.
Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa
+1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste,mas q salvaria inúmeras vidas
A culpa é da China e liberdade seria a solução https://t.co/h3jyGlPymv
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) March 18, 2020
Em resposta, o diplomata chinês respondeu: “As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial”, marcando no tuíte o chanceler brasileiro e o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia.
@BolsonaroSP As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial. @ernestofaraujo @RodrigoMaia @camaradeputados @
— Yang Wanming (@WanmingYang) March 19, 2020
Maia inclusive pediu desculpas em nome do parlamento brasileiro, acrescentando que “a atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia. Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países. Torço para que, em breve, possamos sair da atual crise ainda mais fortes”.
Segundo o Jornal Globo, em 2019 a balança comercial com o país asiático teve superávit de mais US$ 30 bilhões de dólares: o Brasil exportou US$ 65,3 bilhões, e importou US$ 35,8 bilhões. Os chineses são o maior parceiro comercial do Brasil, e ter o filho do presidente da República atacando-o não pegou bem.
Ernesto Araújo, ministro das relações exteriores, repudiou a fala da embaixada chinesa, dizendo que “as críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China, feitas também em postagens ontem à noite, não refletem a posição do governo brasileiro.Cabe lembrar, entretanto, que em nenhum momento ele ofendeu o chefe de Estado chinês”.
A crise também se dá devido a proximidade do Brasil com os Estados Unidos. Donald Trump, presidente americano, tem feito questão de apontar a China como o principal responsável pelo caos mundial que se tornou o contágio do novo coronavírus.
Após todo conflito, Eduardo voltou atrás e tentou amenizar o tom dizendo que jamais ofendeu o povo chinês. “Tal interpretação é totalmente descabida. Esclareço que compartilhei postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia”, afirma o tuíte.
1-As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos.
— Embaixada da China no Brasil (@EmbaixadaChina) March 19, 2020