Infectologista fala dos riscos de voltar á academia agora

15 de maio de 2020 0 Por redacao

Decreto do Governo Federal prevê reabertura das academias, salões de beleza e barbearias, mas enquanto os governadores dos estados discutem a medida (o Governador de São Paulo, João Dória, e outros já se manifestaram contra), nós nos perguntamos: é seguro? Sobre o assunto, conversei com o Dr. Gerson Salvador, médico infectologista e especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP

Na última segunda-feira (11), um decreto do Governo Federal publicado no Diário Oficial da União incluiu como serviços essenciais academias de esportes, salões de beleza e barbearias, o que permitiria a reabertura dos mesmos. O Governador do Estado de São Paulo, João Doria, e outros já se pronunciaram contra a medida e não permitirão a volta das atividades de tais estabelecimentos enquanto houver quarentena. Porém, já vimos nas redes sociais que vários influencers já voltaram com sua rotina de exercícios nos aparelhos, o que nos faz questionar: é seguro? Conversei com o médico infectologista e especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, Dr. Gerson Salvador, sobre o assunto.

Elisabete Alexandre (GQ): Como médico, você concorda com a reabertura das academias no período em que estamos da pandemia?

Dr. Gerson Salvador: Nesse momento, a recomendação é ficar em casa e treinar em casa. O Brasil tem uma das taxas de transmissão mais elevadas do mundo. Enquanto não cair essa taxa de transmissão, não é razoável abrir academia.

EA: As academias podem garantir um ambiente seguro aos associados no momento?

GS: A segurança das pessoas será maior quanto menos elas circularem, então quando quem trabalha em atividades não essenciais – e academia não é serviço essencial agora – está circulando pela cidade, ela pode tanto adquirir o vírus quanto passar para outras pessoas, tendo uma infecção assintomática ou com poucos sintomas. O empresariado que assume essa postura, não está apenas expondo seus funcionários, suas famílias e associados, mas o conjunto da sociedade.

EA: O utilização de máscaras, luvas e álcool em gel – como estamos vendo alguns influencers usando e exibindo nas redes sociais – não garante o não contágio e transmissão do vírus da Covid-19 nas academias, como essas defendem?

GS: O ponto fundamental não é se eles conseguem dar uma estrutura de segurança adequada ou não dentro da academia – que na minha impressão, como regra, não conseguirão, nesse momento de pandemia, do jeito que a situação está -, mas, notadamente, é que estando abertos mais serviços, vão circular mais pessoas e circulando mais pessoas haverá mais infectados e a gente está numa curva absolutamente descontrolada na maior parte dos estados brasileiros, com algumas situações críticas, como Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente nas regiões metropolitanas.

EA: E treinar nas ruas, correr, por exemplo, pode? Com máscara?

GS: Nem na rua, nem na praça, nem com máscara. Devem ser feitos exercícios em casa e, dada o momento de aumento exponencial de casos, é preciso limitar a movimentação às atividades essenciais, como ir ao mercado, por exemplo.

EA: Após o período crítico da pandemia, quando a curva começar a achatar e os estabelecimentos voltarem a abrir. De qualquer forma, as coisas não vão voltar ao normal, como conhecíamos, certo?

GS: A gente vai demorar para estar num período pós-pandêmico, isso só vai acontecer quando a maioria das pessoas tiverem imunidade, ou obtida pela doença ou pela vacina e a gente espera que seja pela vacina, claro. Porém, o horizonte de ter uma vacina disponível num período de 1 ano e meio a 2 é de uma velocidade excepcional comparada a qualquer outra prévia. Teremos um novo patamar de realidade a partir da pandemia, um novo normal. Nossa organização nesses meses, ainda que a gente esteja numa situação de maior controle, será de um novo normal. A situação exigirá que tenhamos menos contato físico, tomemos medidas para diminuir a transmissão do vírus, meios de proteger os mais vulneráveis e não colocá-los numa situação de extrema exposição. É claro, não tem solução pronta para isso, vai depender de pactos dentro da sociedade que visem a proteção da vida.