Patrimônio Arbóreo – Canteiros x Automóveis

Patrimônio Arbóreo – Canteiros x Automóveis

26 de outubro de 2017 7 Por jornalms

* Professora MSc. Joana Prado Medeiros

E agora José? Caríssimos, os tempos são bicudos. A terra grita frente aos dantescos consumos. As expressões “Sustentabilidade, Causa Ambiental e Vidas Humanas” quase nada significam para os detentores do poder político e econômico, seguido da falta de informação, etc. Todos nós sabemos que existe um fosso entre o capital vigente e o sistema-vida, sistema-terra, enquanto a sustentabilidade pressupõe a interdependência de todos e para com todos e por todos, vestindo “Cooperação” e traduzindo vidas.

A tradicional dicotomia crescimento/desenvolvimento econômico e o tripé sócio-econômico-ambiental enfrenta um corpo de discussões em permanente construção e esse processo mostra um reflexo direto nas percepções da população. Novos conceitos são migrados para vários saberes e urge visões interdisciplinares que resultam em inúmeras contribuições em nível do desenvolvimento local, do capital social, do capital humano. Ações sustentáveis expandem…

Tomando como base o espaço local enquanto lócus privilegiado para elucidar algumas questões que bailam em nossas cabeças a pergunta que não quer calar é em minha cidade: como estão nossos canteiros? Para que servem os canteiros? Gostamos de olhar o belo, flores e arbustos, arborizações e sombras, verdes e musgos.

Na contramão do momento atual quando várias cidades do país tomam como prioridade a produção de Cidades Sustentáveis, vale citar que em algumas cidades do estado da Bahia e do Rio Grande do Sul com os chamados “Canteiros Coletivos”. Nesta fila de marcha ré tramita em Dourados, em nosso Legislativo, uma proposta de emenda a Lei do Uso e Ocupação do Solo do Município (LC 205 de 19/10/2012) propondo a substituição dos canteiros centrais por estacionamentos em determinados pontos da cidade.

Os canteiros são superfícies permeáveis, que ajudam a absorver as águas fluviais, reduzem as enxurradas que por sua vez contribuem para os lençóis freáticos em suas recargas. Ameniza a temperaturas a umidade do ar. As árvores… ah! As árvores que tanto amo, estas contribuem para aliviar o stress, purifica o ar, recicla princípios, partículas residuais e gases tóxicos, depurando microorganismos, etc.

Em tempos de sustentabilidade os canteiros, arborizações, vegetações locais são patrimônios de toda a cidade o conceito de “paisagem” é tomado como tudo àquilo que vemos e o que nossa visão alcança uma vez que o espaço urbano é o espaço por excelência das nossas vivências, do nosso desenvolvimento histórico, são representações das ações das pessoas, nossa paisagem urbana nos reflete, e refletem as modificações físicas naturais e as de cunho sociais e culturais.

De modo que o Planejamento Urbano tem como objetivo o valor social da natureza urbana. É importante em relação a essa emenda citada a lei (LC 205 DE 19/10/2012) que ouçamos o posicionamento da Prefeitura, do IMAM do Conselho do Meio Ambiente – COMDAM e tantos outros agentes envolvidos com a questão ambiental, também a população, e os Urbanistas e Gestores Ambientais etc.

Sabemos que nas ultimas décadas, o planejamento e o desenho das cidades, priorizam a circulação de automóveis dificultando a circulação de pedestres entre outros como os ciclistas. Essa inversão de prioridades tem um elevado saldo de danos.

É salutar pensar no conceito moderado de tráfego, também conhecido como Tráfego Acalmado, acalmamento do tráfego – ou Traffic-Calming. Que visa além da diminuição de velocidades e do fluxo de veículos visa a “modificação do comportamento dos diferentes modos de transporte” tudo no sentido de aumentar a segurança viária e o conforto de todos.

No Brasil, existem alguns exemplos de cidades que têm avançado em políticas para a moderação do tráfego.  Podemos buscar exemplos e depois pensar sobre desenvolvimento sustentável a partir do local, é perfeitamente possível, do micro para o macro. O que pautamos na contemporaneidade são cidades humanizadas. A compreensão no sentido amplo da inter-relação entre o crescimento econômico com a melhoria da qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente.

Vale nos reportamos ao filme “MATRIX” (Irmãos Wachohsky, 1999), quando assistimos o resgate da esfera sensível no momento que o hacker Neo, adentra na realidade Matrix e perturbado pelo que vê pergunta ao seu guia Morfeu: Meus olhos doem… Por quê?

E este lhe responde: porque é a primeira vez que os usa!  Importante é refletirmos que o mundo é um universo múltiplo em constante produção que proporciona diferentes olhares. Gestor de diversos ângulos e pontos de referências para quem tem olhos para ver além do comum.

É preciso, pois, cartografar os movimentos da vida. Olhar e olhar diversas vezes e com diferentes olhares!

Os meus olhos doem… E os seus?

 

* Professora MSc. Joana Prado Medeiros, douradense, graduada em História, especialista em História do Brasil, mestre em História e doutoranda em História. Professora na UNIGRAN Dourados (MS). Agora Colunista no Jornal MS Online.